quarta-feira, 2 de março de 2011

Usuários de maconha correm risco maior de distúrbios psicóticos

FOLHA DE SP



DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Os adolescentes e jovens adultos usuários de maconha são mais propensos a sofrer transtornos psicóticos do que os que não consomem a droga, informa um estudo publicado nesta quarta-feira em Londres pelo British Medical Journal.

Especialistas alemães e holandeses, em parceria com funcionários do Instituto de Psiquiatria de Londres, acompanharam durante oito anos 1.900 pessoas com idades entre 14 e 24 anos.

O estudo evidenciou que aqueles que começaram a usar a maconha após o início do estudo e os que haviam feito uso antes e após eram mais propensos a sofrer de transtornos psicóticos do que aqueles que nunca haviam usado.

"O consumo de maconha é um fator de risco para o desenvolvimento de sintomas psicóticos", indica o estudo.

"Este estudo acrescenta informação adicional à evidência já solidamente estabelecida de que o consumo contínuo de maconha aumenta o risco de sintomas e doenças psicóticas", afirmou Robin Murray, professor de investigação psiquiátrica no Instituto de Psiquiatria.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Como se Fosse - Sobre a infância e a forma de encarar a vida do adulto

Publico aqui um texto meu escrito em 2003. Reli e acredito em grande parte do que está escrito nele. Boa leitura.


por Pedro Quaresma Cardoso

            Há algum tempo tive a oportunidade de fazer um curso de Musicalização Infantil. Totalmente prático. Foram seis meses, às quintas pela manhã bem cedo. Tive contato com muito mais que aprender a aplicar teoria. Fizeram-me sentir criança novamente. Como se fosse criança. Estava precisando. Tinha me esquecido como era. De certa forma sentir-se criança é transgredir normas sociais. Normas que só os adultos conhecem.
À medida que envelhecemos me parece que deixamos de acreditar em contos de fadas, duendes, bruxas, unicórnios. De acreditar que andar na cauda de um cometa é possível e de que pode ser muito divertido. Há quanto tempo você não ri a toa? Em algum momento - creio que quando passamos a pensar que sabemos das coisas - sentir-se criança torna-se uma heresia. Algo errado, de mau gosto, que não combina conosco, adultos acadêmicos intelectualizados.
Temos muitas personalidades e nenhuma delas é certa ou errada. Apenas é. Quantas vezes não nos pegamos dizendo: estava fora de mim quando fiz aquilo ou então você estava tão brincalhão que não o reconheci. É como se a vida fosse uma festa à fantasia. Cada situação pede uma forma diferente de comportar-se. Mas, contraditoriamente, o tempo passa e mostramos cada vez menos as peças de nosso arsenal de disfarces. E mais, escondemos as velhas fantasias num porão. Quando percebemos estamos usando sempre a mesma - de adultos de comportamento rígido, petrificado, quase sempre previsível.

Lembro-me de uma “musiquinha” que cantava quando tinha uns sete anos:

Centauro, não é bicho de sete cabeças

Centauro é um bicho levado
Metade do seu corpo é gente

E a outra metade, é cavalo

Velozzzzz, corria atrás do vento

Queria saber para onde ia o danado
Para onde ia? Para onde?[1]
                         
Naquela época não pensava nada sobre o sentido da letra, só sentia e cantava com gosto. Hoje em dia gosto de pensar a primeira frase como uma criança explicando a um adulto: “- Centauro não é bicho de sete cabeças... é metade cavalo, metade gente. Entendeu?”. Não é complicado, muito menos estranho. É apenas um centauro, um bicho levado, arteiro, que ousa correr atrás do vento e divertir-se com isso. Uma criança como ela. E, creio eu, as crianças antes de perceberem que somos sérios acreditam que, como elas, também somos arteiros.
Adultos tentam entender tudo racionalmente, interpretar para tentar explicar os motivos. Assim, prendem-se a detalhes que nem sempre são os mais importantes. Ao se decifrar os truques, o mágico deixa de ser mágico e transforma-se num farsante. Acaba o encanto. Assim, escondemos também nossa parte mágica. Brincar e acreditar que a brincadeira é verdade é uma parte de nós. Uma fantasia que guardamos no porão e, de tempos em tempos, temos que procurar, sacudir a poeira e vesti-la. Como se fosse uma brincadeira. Como se fosse verdade.



[1] Telma Chan 



domingo, 27 de fevereiro de 2011

FOLHA de SP - Scanner de cérebro identifica tendência violenta em criança

As evoluções na ciência são fascinantes, mas é necessário critério, cautela e discernimento para que não sejam entendidas como verdade absoluta nem utilizadas pelos profissionais da saúde como mecanismo de rotulação de patologias quando não há necessidade. Boa leitura. Pedro Q. Cardoso

Traços de falta de empatia em crianças podem ser um sinal de futuros comportamentos antissociais e violentos, apontam dados apresentados nesta semana na conferência anual da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência), em Washington.
Segundo pesquisadores, o escaneamento do cérebro e avaliações precoces podem ajudar a identificar e tratar esses traços, prevenindo problemas de conduta.

SPL
Determinadas áreas do cérebro, como amídala e córtex pré-frontal, geralmente são reduzidas em mentes de psicopatas
Determinadas áreas do cérebro, como amídala e córtex pré-frontal,
geralmente são reduzidas em mentes de psicopatas

"Crianças com altos níveis de traços de falta de empatia e problemas de conduta entre 7 e 12 anos tendem a desenvolver hiperatividade e a viver em um ambiente caótico", diz a professora assistente de justiça criminal da Universidade de Indiana (EUA), Nathalie Fontaine. Ela acrescenta que é um risco potencial para desenvolver a psicopatia em adultos.
Fontaine declarou na conferência que se a identificação dessas crianças ocorrer cedo, tanto elas quanto suas famílias poderão ser ajudadas na prevenção de comportamentos severamente antissociais.
O jornal "The Daily Telegraph" cita estudos do professor e criminologista britânico Adrian Raine, que apontam que criminosos e psicopatas têm áreas do cérebro --como a amídala e o córtex pré-frontal-- reduzidas. Essas áreas controlam nossos impulsos, nossa cooperação social e nossas noções de moral.
Raine disse na conferência em Washington, segundo o Telegraph, que a ausência do medo da punição, que pode ser medida em bebês, também seria um indicativo de futuros comportamentos antissociais, e defende a importância de medições que identifiquem isso.

RISCOS E ÉTICA

A professora da Universidade de Indiana enfatiza que suas descobertas não significam que algumas crianças com falta de empatia necessariamente se tornarão delinquentes, mas que a identificação precoce desses traços pode ajudá-las a lidar com o risco de comportamento antissocial.
Para ela, punições não são eficazes para lidar com o problema. Uma possível solução é reforçar o comportamento positivo dessas crianças, em vez de castigar o negativo.
A pesquisadora examinou dados de mais de 9.000 gêmeos nascidos no Reino Unido entre 1994 e 1996, e cerca de um quarto deles apresentou níveis altos ou oscilantes de empatia.
De acordo com a apresentação de Fontaine, níveis ascendentes de falta de empatia estão associados a mais problemas comportamentais ao longo do crescimento.
Os dados analisados por ela indicam que os traços de falta de empatia derivam, na maioria das vezes, de influências genéticas, principalmente em meninos. Mas, no caso das meninas, fatores ambientais parecem exercer influência significativa.
Por isso, ela faz a ressalva de que suas conclusões se beneficiariam de avaliações desses fatores ambientais ou de risco, como negligência ou abuso infantil.
Segundo o Telegraph, a conferência abordou também as implicações éticas de se tratar crianças antes que elas tenham de fato cometido algo errado, mas, para Raine, as causas biológicas do comportamento não podem ser ignoradas.
"Temos que buscar as causas do crime tanto nos níveis biológicos e genéticos como nos sociais", disse o especialista.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/bbc/880301-scanner-de-cerebro-identifica-tendencia-violenta-em-crianca.shtml