segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Tiras














FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/inde17012011.htm

E dá-lhe Rivotril - RICARDO MELO

RICARDO MELO
E dá-lhe Rivotril


SÃO PAULO - A melhor coisa do mundo é um banco bem administrado. A segunda melhor é um banco mal administrado. As frases, de autoria desconhecida, refletem a imagem popular sobre como é fácil se dar bem tirando proveito da especulação financeira e do desespero alheio. Nos dias atuais, os laboratórios farmacêuticos podem muito bem engrossar a lista de sucesso.
Se a empresa produzir calmantes, aí, então, é lucro certo. Se o país for o Brasil, melhor ainda. A repórter Cláudia Collucci nos informa, pela Folha, que entre 2006 e 2010 a venda do ansiolítico clonazepam por aqui cresceu espantosos 36%.
A joia da coroa é o Rivotril. As sensações que ele produz: o freguês (é assim mesmo que deveria ser chamado) fica relaxado, mais "feliz" e passa a dormir melhor. Efeitos colaterais? Bem, nada é perfeito.
O psiquiatra Ronaldo Laranjeira lembra que, com pouco tempo de uso, o consumidor já se torna dependente. Em termos empresariais, cria-se uma espécie de fidelização química, um verdadeiro achado.
O fato de um remédio desse tipo virar campeão de audiência diz algumas coisas. Na mesma reportagem, Laranjeira ressalta a fragilidade da vigilância sanitária nacional. Desconfia também de conluio entre laboratórios, profissionais do ramo e farmacêuticos. "Mas é só suspeita", faz questão de ressaltar.
Nada contra descobertas da medicina que ajudem as pessoas a viver menos pressionadas, mesmo que seja só para dormir, acordar e "envelhecer mais um dia". Quem não conhece alguém que já perdeu a esperança, mas de tempos em tempos comparece religiosamente a um consultório só para abastecer sua despensa farmacológica e engordar o caixa do laboratório?
O médico insiste que está curando, o freguês-paciente se convence (ou finge) que está sendo tratado e estamos conversados, sempre para o alívio de parentes. Não só para isso, mas em muitas áreas, remediar dá mais retorno do que prevenir.
FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1701201103.htm

domingo, 16 de janeiro de 2011

Venda de calmante dispara no Brasil

Venda de calmante dispara no Brasil
Em 4 anos, salto foi de 36%; tranquilizante é o 2º mais vendido entre drogas com receita e só perde para anticoncepcional


Para psiquiatras, há um abuso na indicação do tarja preta clonazepam, que causa dependência e danos na memória


Marisa Cauduro/Folhapress
A vendedora Mariana Vasconcelos do Prado, 26, não consegue dormir sem tomar o Rivotril

CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO

A venda do ansiolítico clonazepam disparou nos últimos quatro anos no Brasil, fazendo do remédio o segundo mais comercializado- entre as vendas sob prescrição.
Entre 2006 e 2010, o número de caixinhas vendidas saltou de 13,57 milhões para 18,45 milhões, um aumento de 36%. O Rivotril domina esse mercado, respondendo por 77% das vendas em unidades (14 milhões por ano).
O levantamento foi feito pelo IMS Health, instituto que audita a indústria farmacêutica, a pedido da Folha. O tranquilizante só perde hoje para o anticoncepcional Microvlar (em média, 20 milhões de unidades por ano).
Para os psiquiatras, há um abuso na indicação desse medicamento tarja preta, que causa dependência e pode provocar sonolência, dificuldade de concentração e falhas da memória.
Eles apontam algumas hipóteses para explicar o aumento no consumo: as pessoas querem cada vez mais soluções rápidas para aliviar a ansiedade e o clonazepam é barato (R$ 10, em média).
Médicos de outras especialidades podem prescrever o ansiolítico e há falta de fiscalização das vigilâncias sanitárias no comércio da droga.
Procurada, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) não se manifestou sobre o assunto.
Para o psiquiatra Mauro Aranha de Lima, conselheiro do Cremesp (Conselho Regional de Medicina), é "evidente" que existe indicação inapropriada do remédio, especialmente por parte de médicos generalistas, não familiarizados com a saúde mental.
Muitos pacientes, segundo ele, já chegam ao consultório com queixas de ansiedade e pedindo o Rivotril. "As pessoas trabalham até tarde, chegam em casa ansiosas e querem dormir logo. Não relaxam, não se preparam para o sono. Tomar Rivotril ficou mais fácil", diz ele, também presidente do Conselho Estadual Sobre Drogas.
Lima explica que entre as medidas adotadas pelo Cremesp para conter o abuso no uso do remédio estão cursos de educação continuada voltados a médicos generalistas.
Na sua opinião, a precariedade do atendimento de saúde mental no país também propicia o abuso do remédio.

INDICAÇÃO DE AMIGO
O psiquiatra José Carlos Zeppellini conta que recebe muitos pacientes que não tinham indicação para usar o remédio e que se tornaram dependentes da droga.
"Em geral, começaram a tomá-lo por sugestão de amigos e vizinhos, em um momento de tristeza, após terminar um namoro, por exemplo. Não é doença. Depois, não conseguem parar de tomá-lo porque têm medo de não se adaptar. É mais uma dependência psíquica do que física", acredita ele.
Entre os usuários do Rivotril, existe um misto de glamorização e demonização em relação à droga.
Páginas no Facebook, classificadas na categoria entretenimento, tratam o Rivotril como "remedinho maravilhoso". Outros grupos on-line, porém, discutem a dependência e os efeitos colaterais do remédio.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saude/sd1601201101.htm