segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Cientistas ligam mecanismos neurológicos à vulnerabilidade a ansiedade

Estudo pode ajudar no desenvolvimento de tratamentos para indivíduos que sofrem de ansiedade crônica

 
Uma nova pesquisa que examina o cérebro de alguém em estado de ansiedade durante tarefas de condicionadas oferece uma possível explicação sobre o por quê alguns indivíduos podem ser mais predispostos a distúrbios de ansiedade. O estudo, publicado na última edição da revista "Neuron", revela mecanismos neurais que podem contribuir para uma maior resistência ao medo e à ansiedade patológica. As descobertas podem ajudar a direcionar as estratégias terapêuticas para os indivíduos que sofrem de ansiedade crônica, bem como tratamentos que podem ajudar a evitar o desenvolvimento de transtornos de ansiedade.

"Nós estávamos interessados em examinar porque é que alguns de nós podemos superar os pequenos medos e ansiedades que vivenciamos em nossas vidas com mais facilidade do que outros", explica a autora sênior do estudo, Dra. Sonia J. Bishop, da Universidade de Berkeley, Califórnia. "Ou, em outras palavras, quais as diferenças nas funções cerebrais que podem conferir maior vulnerabilidade para o medo crônico e transtornos de ansiedade?"
Estudos anteriores relacionaram uma estrutura cerebral chamada amígdala na aquisição e expressão do medo condicionado, que ocorre quando um estímulo (o estímulo condicionado, CS em sua sigla em inglês) torna-se associado a um objeto ou evento aversivo (o estímulo incondicionado, UCS em inglês). Outra região do cérebro, o córtex pré-frontal ventromedial (vmPFC em inglês) tem se mostrado tanto em animais e humanos auxiliar na inibição do medo condicionado após o treinamento, durante o qual o CS é repetidamente apresentado sem a UCS. No entanto, não está claro como certas características de personalidade, como uma tendência ou vulnerabilidade para a ansiedade, influenciam nesses mecanismos.
A Dra. Bishop e colaboradores realizaram um estudo de neuroimagem para examinar o condicionamento do medo nos seres humanos que haviam sido classificados com variados níveis de "traços de ansiedade", uma tendência a sofrer de ansiedade por uma série de situações cotidianas. Os pesquisadores observaram que os indivíduos que tinham um alto nível de traços de ansiedade foram mais propensos a ter uma resposta da amígdala para sinais de medo de CS e mostrar mais rápida aquisição do "medo aprendido" desses sinais. As diferenças individuais na resposta da amígdala foram independentes da segunda dimensão de risco, desta vez envolvendo a vmPFC. A ativação dessa região durante a expressão de medo condicionado, antes de sua finalização, foi ligada com a maior redução nas respostas de medo e foi mais pronunciado nos indivíduos com medo resiliente.
Os resultados sugerem que as diferenças individuais na amígdala e função vmPFC estão independentemente associadas à vulnerabilidade à ansiedade, com a amígdala potencialmente influenciando o desenvolvimento de medos específicos (ou fobias) e o vmPFC impactando a capacidade de regular negativamente os medos passageiros e ansiedade generalizada. "Uma compreensão dos mecanismos cognitivos pelos quais é conferida a vulnerabilidade característica e a ansiedade patológica, pode ajudar não só a explicar a variabilidade dos sintomas, mas também na melhor escolha da intervenção necessária e previsão da resposta ao tratamento", conclui a Dra. Bishop.


Raiva! Entenda a sua...

Descubra a sua raiva

A emoção primária não é boa ou má em si mesma, mas tanto a explosão quanto a negação ou a dissimulação do sentimento causam danos físicos e psicológicos
IARA BIDERMAN
DE SÃO PAULO

Todo mundo tem uma raiva para chamar de sua, sabendo ou não o nome dessa emoção, tanto básica quanto inevitável.
"Há uma classificação tradicional das emoções em primárias, secundárias e terciárias. A raiva está no primeiro grupo, que são as mais simples e estão presentes em todos os seres vivos desde sempre", diz o psiquiatra Daniel Martins de Barros, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Quer dizer que, em estado puro, raiva é tão inocente quanto um animal selvagem.
Mas o animal racional é assim chamado porque desenvolveu córtex frontal do cérebro, estrutura que o permite controlar os instintos e adequá-los ao convívio social.
"Ao longo da evolução, a forma de manifestar a raiva foi mudando. A reação depende do que cada um de nós considera um ataque à própria sobrevivência", diz o psicanalista Marcio Giovannetti, da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.

FORA DO CONTROLE

Comum a todos, a raiva é vivida em diferentes graus ou intensidades por cada um.
"Em psiquiatria, os sintomas são variações da normalidade. Se saem do controle e começam a trazer prejuízos para o dia a dia, é hora de examinar o que é e o que pode ser feito", explica Barros.
Em si, não é sintoma de nada específico, mas pode estar presente em vários distúrbios, da depressão ao transtorno antissocial.
"Pode aparecer muito no transtorno explosivo intermitente, em que a pessoa reage de forma inesperada, intempestiva e desproporcional à provocação, perdendo o controle", diz o psiquiatra.
Como todo mundo que já levou uma fechada no trânsito sabe, mesmo sem nenhum diagnóstico psiquiátrico o descontrole acontece. E pode atrapalhar a vida.
"O sentimento persistente ou exacerbado traz danos. E muita gente o cultiva, sem perceber que se trata de raiva", diz a psicóloga Marilda Lipp, fundadora do Centro Psicológico de Controle do Stress.
Para lidar com a emoção, é preciso reconhecê-la, o que nem sempre é fácil, porque a raiva tem várias faces -todas potencialmente danosas.
"Se a pessoa não percebe o que está acontecendo, alimenta a raiva (seja em manifestações externas ou internamente), e cria um círculo vicioso", diz Lipp.
Os efeitos se acumulam no corpo. Raiva não controlada pode causar problemas cardiovasculares, estomacais e dermatológicos.
Entendendo o que desencadeia a emoção e como ela se manifesta, estratégias de controle, como terapia cognitivo-comportamental e exercícios respiratórios, podem evitar o estrago.
"Isso não quer dizer negar a raiva, mas aprender a lidar com ela de forma mais racional e adequada ao contexto social", explica Giovannetti.
Achar que é melhor explodir é questionável. "Houve época em que se acreditava nisso. Mas há trabalhos mostrando que a explosão é tão prejudicial quanto engolir a raiva do ponto de vista físico e psicológico", diz Barros.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saude/sd1402201102.htm FOLHA DE SP