domingo, 6 de fevereiro de 2011

Um lugar qualquer - Sofia Coppola

por Fabiana Esteca


Quando entrei no cinema para assistir a Um lugar qualquer, novo filme de Sofia Coppola, não fazia ideia do tema, fui só com a expectativa de ver um filme bom, de uma diretora que me conquistou em Encontros e desencontros (2003).
O estilo de Sofia Coppola é muito singular. A diretora consegue transmitir sentimentos sem precisar ser óbvia, em um ritmo contemplativo, que a muitos não agrada. Não é imprevisível, tampouco previsível.
Os dois filmes citados se aproximam em muitos aspectos, tratam da melancolia de uma vida agitada, mas sem sentido e solitária, com prazeres pontuais, instantâneos, proporcionados pela fama.
Entre outras coisas, o sucesso – em sua forma mais crua – é também um dos questionamentos da cineasta. O personagem Johnny Marco, interpretado por Stephen Dorff, é a tradução explícita do sucesso, tal qual está presente no imaginário coletivo. Infelizmente é este ideal que muitas vezes queremos comprar: a busca por reconhecimento, a auto-afirmação a partir de conquistas amorosas descartáveis, o poder de compra, porém não passam de recursos para preencher a falta e sair do tédio. É a fuga perfeita: sem dor, sem sobressaltos, sem crises, sem alegria, sem nada – como o olhar de Johnny Marco.
Outro ponto de destaque é o modo como o amor é abordado. Cenas comuns, corriqueiras, refletem como a relação de duas pessoas pode ser doce, dentro da complexidade presente no amor.



Para o sociólogo Bauman, atualmente vivemos um processo de fragilização dos laços humanos inerente à pós-modernidade. Segundo ele, a cultura de consumo em que vivemos está sempre vendendo produtos e sensações inéditas, em geral, a troca constante do “velho” pelo novo. As relações atuais são um reflexo disso, o envolvimento diminui, pois o apego é uma ameaça diante da crença de que é preciso estar livre emocionalmente para poder experienciar outras relações, sempre com a promessa de que as próximas serão melhores.
Por isso, o filme de Sofia Coppola me parece necessário, ao menos para nos darmos conta que com a liquidez invencível da nossa vida contemporânea, algo valioso pode estar escorrendo entre nossos dedos.

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